Cores intensas entraram neste apartamento paulistano só para realçar os volumes de concreto, como a escultural mesa curva, que desenha a fronteira entre sala e cozinha.
Puro relax. Quarto é lugar para descansar, certo? Essa premissa levou à escolha de um verde masculino mas cheio de boas vibrações para cobrir a superfície da cabeceira. O acrílico acetinado (Sherwin- Williams, ref. kendal green, SW 6467) caiu bem com o piso de tauari e as folhas de cumaru e ébano que revestem o armário.
Forte impacto. Neste canto da cozinha, o matiz fechado faz dobradinha com o piso: a parede ganhou tinta epóxi roxa (Sherwin-Williams, ref. concord grape, SW 6559). Jogo bicolor. Como arremate da bancada, o armário (Marcenaria Nova Geração) recebeu laminado vinho (Formica). Note que a faixa preta se prolonga até o final do móvel e segue pela mesa de concreto (cuja espessura foi pintada de tinta acrílica fosca) para criar a sensação de continuidade.
Tingir chão e paredes de tons atrevidos, numa verdadeira epifania colorida, foi uma escolha absolutamente natural do arquiteto Rodrigo Ohtake, que os usou para avivar as intervenções neste antigo apartamento. A reforma tinha nobre missão: recolocar o imóvel à altura de seu autor – o prédio paulistano leva a assinatura do arquiteto Abrahão Sanovicz (1933-1999), famoso pelo ideário racional. Coube a Rodrigo traçar novos planos, linhas e volumes para recriar a morada sem trair seu espírito modernista. Só bancada, prateleiras, banco-aparador e uma parede conservaram o visual cru do cimento (entre eles, sem dúvida, a mesa de jantar arredondada é a grande protagonista).
Se, logo no início da transformação, o jovem profissional estava inclinado a apostar suas fichas numa paleta animada, o morador ficou um tanto reticente. A ousada incursão pelas cores só aconteceu porque Rodrigo teve o cuidado de, na primeira conversa, esmiuçar o universo de seu cliente até compreender que o projeto deveria aliar movimento a aconchego. “Precisei deixá-lo namorar o roxo durante algum tempo. Aí ele se convenceu de que era a opção certa para o piso”, lembra o arquiteto. De fato, não passava pelo imaginário de Saulo Triani, bastante reservado e pouco afeito a exageros, viver num lugar tão vibrante. O mix energético, no entanto, contribuiu para o bancário esquecer o gosto por cores claras e neutras. E ele capitulou diante das evidências: sim, é possível somar tonalidades fortes e, ainda, manter o equilíbrio visual. Juntos, roxo, amarelo, verde, cinza, preto e vinho cumprem lindamente sua função. “Selecionei a cartela a fm de enfatizar a arquitetura”, explica Rodrigo. “Quando olhei pela primeira vez, vi que a combinação não poderia ter sido outra”, avalia o morador. “Adoro ficar descalço em casa, e o berinjela produz a sensação de calor, de maciez.”
Sem barreiras, o tom se estende por toda a área social com o encargo de alongar a superfície, enquanto o amarelo ressalta o volume do lavabo. Nada mau para quem, inicialmente, queria cinza nas paredes e azul-marinho no chão.
Fonte: Abril
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