7 de julho de 2011

Brasileiros ajudam a salvar mercado imobiliário da Flórida

Se tem uma coisa que a corretora de imóveis Fabiana Pimenta, da Fortune International Realty, uma das maiores imobiliárias de Miami, cumpre religiosamente nos últimos meses é agradecer a Deus por ser brasileira. Melhor: pelo fato de os Estados Unidos estarem abarrotados de brasileiros que andam se fartando de gastar na terra do Tio Sam, beneficiados pelo forte aumento da renda e pelo dólar em baixa – a moeda norte-americana vale o mesmo que 12 anos atrás.

São esses brasileiros que têm garantido à corretora um faturamento nunca visto em seus sete anos de carreira. Desde que a maior economia do mundo foi à bancarrota em 2008, com o estouro de uma bolha imobiliária, são os estrangeiros que têm movimentado o setor do qual Fabiana tira o seu sustento. Ela não esperava, porém, que seriam os seus conterrâneos os maiores impulsionadores do mercado. “O que está ocorrendo é uma loucura. Os brasileiros simplesmente salvaram o mercado imobiliário da Flórida”, diz. “Eles estão comprando de tudo. Casas e apartamentos para passar férias, para morar, para investimento. Há os que já procuram o segundo ou o terceiro imóvel”, conta.

Parte da clientela de Fabiana Pimenta é composta de profissionais liberais, como médicos e advogados. Moradores de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília formam o grupo mais reluzente de interessados em fincar um pé na ensolarada Miami.

Bem-vindos

Quando a agente da imigração do Aeroporto de Miami disparou, em bom português, um “Bom dia!”, caiu a ficha do corretor de seguros Flávio Almeida, de Belo Horizonte. Acostumado, em outros tempos, a ser recebido em inglês ou no máximo espanhol, Almeida entendeu, ali, que brasileiros, mais que “welcome”, eram “bem-vindos” mesmo. A confirmação veio no banco, quando viu seu novo apartamento de US$ 380 mil em Aventura, badalado distrito de Miami, ser financiado a taxas de 5% anuais. “É condição exclusiva para quem mora no Brasil e quer ter segunda residência lá. Curioso é que para os americanos mesmo, eles não financiam assim”, conta.

Ele vendeu o apartamento que tinha em Fort Lauderdale, ao Norte de Miami, por US$ 180mil e comprou o novo imóvel, bem próximo a um dos centros de compras mais visados por brasileiros na cidade, o Aventura Mall, complexo com mais de 300 lojas, que recebe 24 milhões de visitantes por ano. “Já vi brasileiro voltando para casa com sete malas, pagando, feliz, o excesso de bagagem”, diz. Almeida tem oito vizinhos brasileiros, a maioria mantém o endereço como casa de veraneio. O dólar baixo e a queda nos preços tornaram impossível, segundo ele, resistir às ofertas: “Os imóveis estão até 70% mais baratos que o preço de mercado há dois anos. E isso vale para diferentes faixas de preço”.

Quando o Banco Lehman Brothers quebrou, em 15 de outubro de 2008, pelo menos 20 mil casas e apartamentos novos estavam à venda em Miami. Diante do estrago na economia norte-americana, acreditava-se que esse estoque levaria pelo menos 10 anos para ser zerado. Com a disposição dos brasileiros de comprar imóveis naquela cidade, o volume de empreendimentos se resume, hoje, a 3 mil. De cada 100 residências vendidas nesses dois anos e meio, 25 foram para brasileiros.

Conspiração

Tudo está conspirando a favor dos brasileiros. Além do aumento da renda e da supervalorização do real, os imóveis estão, em média, 50% mais baratos, pois, com o estouro da bolha, um número enorme de norte-americanos não conseguiu pagar as prestações de suas casas que estavam hipotecadas – algumas, mais de uma vez. Os imóveis foram, então, devolvidos para os bancos e, para fazer dinheiro, as instituições passaram a ofertar tudo a preço de liquidação.

Resultado: residências de alto padrão em Miami estão custando menos que um imóvel no Rio de Janeiro e em Brasília, duas das cidades com imóveis mais caros do país. Um apartamento de dois quartos, com 140 metros quadrados de área útil, sem contar varanda e garagem, em Brickell, coração financeiro da cidade americana, custa US$ 300 mil ou R$ 480 mil, abaixo dos oferecidos em Ipanema, no Rio.

É o que também ressalta o corretor José Augusto Pereira Nunes, dono da imobiliária Algebra Realty, em Miami. A mil por hora para fechar negócios com os brasileiros, ele afirma que um apartamento de três quartos naquela cidade, com 120 metros quadrados, em um condomínio com marina, quadra de tênis e de basquete, está sendo vendido por US$ 350 mil (R$ 560 mil).

Você se lembra?

Tempo de turbulência - Em 2005, o mercado imobiliário americano estava em alta e muita gente aproveitou os juros baixos para investir na compra de imóveis. O crédito galopou a passos tão largos que até os empréstimos subprime, aqueles concedidos a pessoas que têm menos garantia de comprovar renda ou com problemas de inadimplência, avançaram pela terra do Tio Sam. É bom recordar que esse tipo de empréstimo, devido ao grande risco, tem juros maiores, tornando-os mais atraentes para bancos. De olho nisso, empresas compraram títulos subprime, permitindo que nova quantia seja despejada no mercado antes mesmo de o primeiro empréstimo ser pago. Ocorre que em 2006 os preços dos imóveis começaram a cair e os juros do banco central de lá, o Fed, a subir. Isso afugentou compradores e a oferta começou a superar a demanda. Os juros altos puxaram a inadimplência e deflagraram a crise econômica em 2008. O primeiro banco americano a falir foi o Lehman Brothers. Depois, a turbulência se espalhou pelo mundo.

Com informações de UAI/Jornal Estado De Minas.

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